Edward

Reitor analisa situação das universidades federais em palestra para a UFPE

Atualizada em 13/09/21 13:53.

Edward Madureira participou do Seminário de Avaliação e Planejamento Anual da Universidade Federal de Pernambuco

Texto: Ana Paula Vieira
Imagem: Reprodução/Google Meet

Edward

O reitor da UFG, Edward Madureira, participou do Seminário de Avaliação e Planejamento Anual da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), proferindo uma palestra sobre a realidade e situação atual das universidades federais brasileiras. O evento foi conduzido pelo reitor da UFPE, Alfredo Gomes, e pelo vice-reitor Moacyr Cunha.

Madureira começou sua explanação falando sobre as funções das universidades federais que, segundo ele, atuam como “verdadeiros agentes de estado e de desenvolvimento”. Ele explicou que as instituições têm diversas funções, como por exemplo a formação de profissionais conscientes e críticos, de recursos humanos para a ciência, tecnologia e inovação, de interação com a sociedade, sendo referenciais no sistema de ensino e contribuindo na concepção e execução de políticas públicas e na correção de assimetrias.

Além do papel das universidades federais, o reitor da UFG destacou ainda a realidade que elas enfrentam hoje: fakenews, tentativas de desqualificação, desrespeito à autonomia universitária, descontinuidade de políticas públicas e restrições orçamentárias. Sobre o orçamento, o reitor trouxe dados da Câmara dos Deputados e análises realizadas pelo professor da UFG Nelson Cardoso Amaral. Os números apresentados mostram a queda nos recursos destinados à educação e às universidades entre 2014 e 2021: o valor para custeio e capital em 2014 era de pouco mais de R$ 9 bilhões e foi para R$ 5,5 bilhões em 2021. “E nesse período o sistema cresceu, especialmente na pós-graduação, que tem 150 mil estudantes a mais”, explicou Madureira.

Em relação aos investimentos em pesquisa, o reitor também falou sobre a queda dos orçamentos de agências de fomento como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cujos recursos foram de cerca de R$ 8 bilhões em 2014 para cerca de R$ 3 bilhões em 2021. No Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a queda foi de aproximadamente R$ 2, 1 bilhões. “A ciência brasileira cresceu, tanto que a única meta do PNE [Plano Nacional de Educação] que tem sido cumprida é a formação de mestres e doutores. Mas até quando? Sem bolsas da Capes e do CNPq não teremos mais”, alertou o dirigente da UFG.

Edward comentou ainda sobre a queda de recursos em outras áreas, como cultura e gestão ambiental, e o aumento dos valores para a Defesa e nos encargos para refinanciamento da dívida. Diante desse cenário, o reitor afirmou que a “universidade só sobreviveu” porque ela deixou de fazer ações como manutenção predial, de frota e obras para acessibilidade.

Mitos
Em uma segunda parte da sua palestra, o reitor da UFG também destacou alguns mitos recorrentes sobre as universidades federais, mostrando os motivos pelos quais as suposições não se confirmam e os porquês de algumas comparações geralmente feitas não serem justas. Uma das explicações refere-se ao argumento de que o Brasil já aplica um volume de recursos adequados em todos os níveis da educação. Edward explica que não é ideal comparar as porcentagens dos Produtos Internos Brutos (PIBs) de diferentes países, pois o valor deve ser dividido pelo número de estudantes, considerando-se o tamanho do PIB e o tamanho da população.

Outra comparação questionada pelo reitor da UFG é relativa aos indicadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE), muito utilizados em análises sobre a educação. Um dos indicadores mencionados pelo reitor foi a relação aluno-professor, que supostamente seria muito baixa nas universidades federais brasileiras. Para Edward, seria preciso comparar o desempenho das instituições do Brasil com outras que assumem as mesmas tarefas assumidas pelas universidades federais brasileiras, que vão além do ensino e incluem equipamentos como hospitais e museus.

A queda da qualidade das instituições com a expansão e a afirmação de que os estudantes das universidades federais pertencem aos estratos mais altos da sociedade também foram mitos abordados pelo reitor: “Pesquisa da Andifes de 2018 mostra que 75% dos nossos estudantes estão em condição de vulnerabilidade social”.

Edward ainda elencou algumas dicotomias relacionadas às universidades federais que, em sua opinião, não contribuem para o debate e desenvolvimento das instituições, como as oposições entre inclusão e qualidade; graduação e pós-graduação; pesquisa e extensão; ciência e tecnologia; empreendedorismo e compromisso social; relação com empresas e autonomia, entre outras. “São artifícios para justificar a redução de financiamento”, analisou o reitor.

Perspectivas
Quanto às perspectivas para o futuro das universidades federais, Edward Madureira destacou três pontos: a retomada do PNE, a importância das instituições atuarem em rede e de essa rede também interagir com os institutos federais e as universidades estaduais. “A gente precisa retomar o marco PNE; ou aquele, ou aquele revisitado. A nossa distribuição demográfica joga forte contra a gente a partir de agora; o número de jovens do Brasil, nas projeções de agora para frente, entram em declínio. Em 2024 teremos menos jovens que em 2014”. Ele também apontou: “Tem que levar a questão do investimento a sério”.

Sobre a atuação em rede das universidades, o reitor enfatizou a importância do Programa de Mobilidade Virtual em Rede - Promover Andifes -, em que estudantes de graduação podem cursar disciplinas de maneira remota nas instituições participantes da iniciativa. “Se a gente agir como um sistema de universidades federais, nossas possibilidades são inimagináveis na reconstrução do país. Podemos pensar na Universidade Federal do Brasil: não estou falando de criar uma super universidade, mas de as 69 cooperarem para que as experiências boas possam ser utilizadas automaticamente pelo sistema”, analisou Madureira.

Após a explanação, os participantes do Seminário - que foi realizado presencialmente na UFPE, com a palestra remota do reitor da UFG -, fizeram perguntas ao convidado.

Fonte: Reitoria Digital UFG

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