
Reitor da UFG participa de debate sobre gestão municipal
II Seminário de Gestão Municipal trouxe painel sobre impacto da pandemia nas eleições 2020
Texto: Ana Paula Vieira e Sabryna Moreno
Foto: Reprodução/Google Meet
O II Seminário de Gestão Municipal, promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas ao Setor Público (Cepasp), da Faculdade de Administração e Ciências Econômicas da UFG (FACE), realizou seu terceiro painel na manhã desta quarta-feira (23/9), com o tema: Eleições Municipais 2020 x Pandemia: o impacto na gestão municipal. A discussão foi aberta pelo coordenador do Cepasp, Vicente da Rocha Soares Ferreira, e conduzida pelo reitor Edward Madureira. Os painelistas foram os professores da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Leonardo Secchi e da Universidade de São Paulo (USP) Fernando de Souza Coelho.
Leonardo Secchi falou sobre o impacto da pandemia no processo de pré-campanha eleitoral. De acordo com ele, uma das maiores características das eleições deste ano é consequência do fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais, estabelecido pela Emenda Constitucional nº 97/2017. Levando em conta o resultado de uma pesquisa exploratória realizada pelo professor em capitais e grandes cidades interioranas, essa transformação levou a um aumento de 30 a 50% no número de candidaturas em relação à última eleição. “Imagine que, em uma cidade, como Goiânia, como um cidadão consegue fazer distinção entre candidaturas? É uma sobrecarga de informação muito grande, muito difícil para o cidadão fazer uma escolha razoada. Às vezes, vai por um critério de familiaridade, proximidade. Se for por uma avaliação de programas e propostas, fica bastante complicado”, exemplificou o professor.
Além disso, o painelista pontuou outras características das eleições 2020, como a maior utilização das redes sociais, especialmente devido ao contato reduzido, causado pela pandemia. Para ele, é tempo de “menos contato pessoal e mais mídia social”. A agenda também deve ser influenciada pelo contexto atual da Covid-19, sendo assim, em sua opinião, a saúde e a educação terão destaque. No tocante à políticas de gestão pública, a digitalização dos serviços — o “governo sem papel” — torna-se cada vez mais frequente: “A chamada ‘transformação digital’ deve ser o próximo passo das administrações municipais”, sugeriu Leonardo Secchi.
Para finalizar, o professor propõe uma reflexão sobre a participação cidadã por meio das candidaturas coletivas, cada vez mais populares nesse contexto de manifestações sociais e “democracia semidireta”. “Uma pessoa é, oficialmente, a candidata, mas, por trás dela, há um conjunto de pessoas que se propõe a exercer o mandato de maneira compartilhada, com o processo de tomar decisão coletiva, com autonomia legislativa e de fiscalização, o que gera um pouco de conflito entre os partidos, mas resgata aquele ponto de contato com a população”, ressaltou o painelista.
Prosseguindo a discussão, o professor Fernando de Souza Coelho iniciou sua fala fazendo uma reflexão sobre a diminuição de confiança e legitimidade da sociedade civil em relação aos seus representantes políticos. “Esse não é um fenômeno brasileiro, é internacional. Os estudos dos grandes organismos internacionais mostram que cai, vertiginosamente, a confiança da sociedade nos governos e, com isso, tem uma certa perda de legitimidade. Não é diferente no Brasil, está claro desde as manifestações em Minas de 2013”.
Em toda a apresentação, o professor destacou a importância de que os representantes políticos não deixem de pensar em planos de governo ajustados à realidade: “Estamos em um período de forte focalização de ações emergenciais e vamos ter que retomar um conjunto de outras ações que foram, em parte, paralisadas. Vamos ter um período de transição de governo curto, de apenas 45 dias, e o ajuste à realidade do plano de governo terá que ser muito forte.”
Outro valor, para o professor Fernando, é a inovação, possível até mesmo dentro das conjunturas de pequenos municípios, os quais “não apresentam tão somente problemas, mas também lições e aprendizados que são úteis aos outros municípios e mesmo para os outros níveis de governo”. Ele enfatiza que é preciso entender a inovação como “o processo que está debaixo do radar político e distante do holofote midiático e, muitas vezes, baseado na simplicidade, gerando mudanças graduais em relação às características presentes na gestão pública”.
Após o encerramento das apresentações, o reitor da UFG e presidente da Andifes, Edward Madureira, aproveitou a presença dos professores convidados para fazer uma reflexão sobre a importância do diálogo entre as universidades brasileiras e como o momento atual mudou as relações sociais e profissionais: “A pandemia, definitivamente, nos tirou de qualquer zona de conforto. A vida não vai ser a mesma, e isso não é só retórica, é fato. A universidade já mudou bastante, na forma de a gente se organizar, de reunir, de fazer os eventos. Tudo vai mudar e a gente tem que tirar aprendizado disso”. Edward também fez provocações sobre o tema do painel, questionando assuntos como a responsabilidade dos representantes políticos e o impacto das mudanças na escolha de reitores de instituições federais de ensino.
O II Seminário de Gestão Municipal: Democracias, Capacidades e Gestão iniciou na terça-feira (22/9), e encerrou nesta quarta-feira (23/09). Durante todo o evento, foram discutidos quatro grandes temas, em formato de painéis: Burocracia e capacidade estatal na gestão dos municípios brasileiros; Saúde no contexto municipal; Eleições Municipais 2020 x Pandemia: o impacto na gestão municipal; e Inovação na gestão municipal: relatos e desafios.
Fonte: Reitoria Digital/UFG
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