
Painel debate ensino, políticas públicas e papel de instituições educacionais
"Instituições de Ensino Superior: presente e futuro" foi o tema do terceiro dia do Simpósio Ciência, Arte e Educação
Texto: Ana Paula Vieira
Imagens: Reprodução Youtube
No segundo painel do Simpósio Ciência, Arte e Educação em tempos de pandemia, realizado nessa quarta-feira (10/6), os palestrantes refletiram sobre o ensino, as políticas educacionais públicas e o papel das instituições de educação. Os reitores do Instituto Federal Fluminense, Jefferson Manhães, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcelo Knobel e o professor emérito da UFG, Luiz Fernandes Dourado questionaram diversos fatores relacionados à educação nesse momento de pandemia: o uso das tecnologias, flexibilização de currículos, ações de apoio e permanência aos estudantes e autonomia na gestão foram alguns dos temas abordados. A moderação do Painel foi da reitora da Universidade Federal de Catalão (UFCat), Roselma Lucchese.
O reitor Jefferson Manhães foi o primeiro painelista a se apresentar e defendeu que o momento atual representa um “desafio civilizatório”. “Os problemas não são mais locais, regionais, nacionais. Temos o enfrentamento a problemas de escala planetária. Para encontrar a vacina e superar desafios, é preciso uma governança internacional”, analisou Jefferson. Ele também explicou que a crise não é simétrica entre os países e nem dentro dos países: “Com essa crise, estão se desvelando todas as contradições sociais. Está em questionamento a estrutura alimentar de qualidade, moradia, transporte público e um conjunto de outros elementos que vem mostrando a fragilidade da organização da vida”.

representa um "desafio civilizatório"
Nesse sentido, o reitor do IF Fluminense refletiu, em sua palestra, sobre valores como a relação do homem com a natureza, a importância do espaço público, da ciência básica e da transparência das ações. De acordo com Manhães, essas reflexões devem levar em consideração os sujeitos: “Temos que verificar se o nosso papel enquanto instituições de ensino será de modelar nossos estudantes para se adaptarem a esse mundo de contradições ou se vamos formar pessoas que possam transformar essa realidade. Hoje, por exemplo, para retomar as atividades, há grande discussão sobre o que é gerir uma instituição pública. É só definir horários e currículos ou temos que considerar os sujeitos?”. Para o reitor, um novo modelo de educação pressupõe uma mudança de consciência e de pensamento, que envolve a formação para a resolução de problemas complexos, com inteligência emocional, liderança, considerando novas possibilidades de organização para o futuro, o que, em sua opinião, requer currículos mais flexíveis, adaptados para uma nova dinâmica da sociedade e do mundo de trabalho, que passa pela intensificação do uso das tecnologias, tornando os espaços de aprendizagem mais híbridos. “Mas se não fizermos isso na perspectiva dos sujeitos, poderemos fazer exclusão para aqueles que não têm acesso”, alertou o palestrante.
Experiências
O reitor Marcelo Knobel foi o segundo palestrante do Painel. Ele falou sobre experiências adotadas pela Unicamp, que foi a primeira universidade a suspender as aulas presenciais, em 12 de março, mas que optou por continuar de maneira remota. Marcelo pontuou que não é a situação ideal, pois muitos estudantes não têm equipamentos e internet e muitos professores não estão acostumados à nova modalidade, e falou sobre algumas atitudes adotadas pela instituição para lidar com esses impactos: “Tivemos muitas doações de computadores, tablets, pegamos da própria Universidade para emprestar. Distribuímos mais de mil computadores e tablets. Compramos chip de internet pré-pago banda larga e distribuímos mais de 500 para estudantes carentes. As bolsas de auxílio transporte, nós transformamos em bolsa emergencial remota”. Segundo o reitor, existem alguns mecanismos para garantir que a maioria siga e acompanhe as aulas e, para os que não conseguem, houve uma flexibilização do semestre: é possível trancar a matrícula a qualquer momento, sem prejuízo para o histórico escolar e para o coeficiente de rendimento. “Temos recebido relatos interessantes. é um desafio para todos nós, cada lugar tem situações diferentes. É um desafio diário, mas a gente precisa mostrar para a sociedade que temos a força no ensino, na pesquisa, na mobilização social e que a gente é, mais do que nunca, relevante”, enfatizou o gestor da Unicamp.

aulas presenciais e adotou atividades remotas
Na opinião de Marcelo Knobel, após um período de ataques contra as universidades públicas, à ciência e de negacionismos, agora há um momento de percepção pública favorável para essas instituições, que devem aproveitar para criar laços mais fortes com a sociedade. “Melhorar nossa comunicação institucional é fundamental. Temos falhado, de maneira geral, nessa comunicação, apesar dos nossos esforços. Temos que saber falar a linguagem do público jovem, encontrar mecanismos interessantes de chegar cada vez mais fortemente ao público que queremos chegar”, pontuou o reitor. Ele ainda destacou que, na Unicamp, desde o início da pandemia, foi criada a força tarefa Covid-19, com mais de 70 grupos de pesquisa trabalhando no combate à pandemia e uma célula de voluntariado e doações. “Foi incrível a resposta da sociedade. Recebemos mais de 13 milhões de reais em doações. A gente criou um movimento importante de comunicação e contato, algo que eu espero que permaneça para o futuro”, enfatizou Knobel.
Políticas Públicas
De acordo com o terceiro participante do Painel, o professor emérito da UFG, Luiz Fernandes Dourado, atualmente, há proposições e tensionamentos em escala global, local, nacional e institucional. Para o professor, esse movimento se intensifica na pandemia mas já era marcado por retrocessos no País: “O avanço do neoliberalismo conservador veio desarticulando um conjunto de políticas. Muitos problemas já estavam presentes e foram se intensificado por um conjunto de políticas e ajustes que foi na contramão da sociedade brasileira, dos trabalhadores, pautado por uma visão ultra neoliberal e conservadora, o que tem impacto severo na agenda das políticas públicas, especialmente na educacional”. O professor criticou a “mercantilização e financeirização da educação”, e lembrou que, entre 2003 e 2016 houve uma duplicação de matrículas, criação de novas instituições e cursos, ampliação da pós-graduação, expansão e interiorização, além de um movimento efetivo do setor público de utilização e implementação da educação a distância como modalidade educativa. “Temos que compreender que esse processo expansionista, não linear, com tensões e conflitos, significou avanço sobremaneira na educação pública, aliado à movimentação de democratização do acesso e permanência, como a lei de cotas e políticas de assistência estudantil”, ressaltou o palestrante.

modalidade de ensino
Para Dourado, a situação atual, evidenciada pela pandemia, é complexa e revela a desigualdade social que já era vigente no Brasil. Nesse sentido, ele defende que é preciso repensar o momento político pedagógico que, em sua opinião, deve ser o mais institucional e participativo possível, sem abrir mão da gestão democrática. “Acho que a gente precisa avançar numa perspectiva de fomentar cada vez mais políticas pedagógicas articuladas, interinstitucionais, envolvendo a educação superior a distância, formação de professores, criação, disponibilização, uso e gestão de tecnologia e recursos educacionais compartilhados”, analisou o professor. Ele ainda destacou o debate sobre educação a distância, lembrando que a desigualdade, nesse caso, não é somente de acesso, mas envolve também condições familiares e domiciliares. “É importante discutirmos alternativas pedagógicas que não abram mão de um padrão de qualidade. Educação a distância é uma modalidade educacional, não simplesmente uma atividade não presencial. Essa modalidade se configura pela mediação didático-pedagógica com meios e tecnologias de informação e conhecimento. Não se trata de estar contrário às tecnologias, mas de compreender a tecnologia como um meio e não como um fim em si mesmo. Não nos bastam as plataformas, mesmo que sejam de acesso gratuito; é preciso discutir pedagogicamente como vamos lançar mão desses meios e tecnologias, com políticas de acesso, acompanhamento e avaliação”, enfatizou Dourado. Clique aqui para assistir ao Painel na íntegra.
Simpósio
O Simpósio Ciência, Arte e Educação continua nesta sexta-feira (12/6), com o painel "Informação e política na pandemia: narrativas em conflito". A transmissão começa às 19h30, no canal UFG Oficial no Youtube, e terá a participação da professora da Universidade Federal de São Paulo e da Universidad Complutense de Madrid Esther Solano; do líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak e do professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp e coordenador do Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa e Extensão, Juarez Tadeu de Paula Xavier. A moderação será do reitor da Universidade Federal de Jataí (UFJ), Américo Nunes da Silveira Neto.
O Simpósio é promovido pelas Instituições Públicas de Ensino Superior de Goiás: Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Jataí (UFJ), Universidade Federal de Catalão (UFCat), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Instituto Federal de Goiás (IFG) e Instituto Federal Goiano (IF Goiano).
Source: Reitoria Digital/ UFG
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